Gerar uma vida engloba muito mais do que deixar um legado
February 1, 2024 4:22 pm EDT
Por Tássia Ginciene, diretora de Policy, Acesso e Comunicação da Organon Brasil
A chegada de um filho é, inegavelmente, um marco que impacta de maneira transformadora a vida de uma família. Em uma sociedade onde homens ainda acreditam que “fazer um filho” é deixar um legado, ou uma questão de status social, muitas meninas ainda são coagidas, ou impostas pela sociedade, a não se importarem com uma possível gravidez, sem levar em consideração o tamanho dessa responsabilidade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 16 milhões de meninas entre 15 e 19 anos de idade são mães todos os anos. A grande maioria dessas gestações é considerada indesejada ou não planejada. No Brasil, o quadro é ainda mais preocupante. A cada mil adolescentes nesta idade, cerca de 53 se encontram grávidas, quando a média global é de 41 casos, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Não estou negando que ter um filho pode contribuir para a construção de um legado. Nesse ato, os pais compartilham não apenas sua carga genética, mas também valores, tradições e experiências que moldam a identidade familiar. A jornada da parentalidade, em tese, cria um elo indissolúvel entre gerações, deixando uma marca única que transcende o tempo e deixa um legado que perdura através das narrativas familiares.
Mas, infelizmente, a realidade é outra. Segundo o Datafolha, 55% das mães brasileiras é solteira, viúva ou divorciada. Entre as mães solo, 18% estão desempregadas. Além disso, o Brasil teve mais de 110 mil certidões de nascimento sem o nome do pai em 2023, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil.
Nesse contexto, precisamos falar sobre a importância de expandir informações e acesso a métodos contraceptivos para planejamento familiar. Os adolescentes precisam saber que, além de desafios físicos e emocionais, essa realidade impacta diretamente as trajetórias educacionais e socioeconômicas, ampliando as disparidades sociais.
No Brasil, segundo resultados de uma pesquisa encomenda pela Organon para IPSOS, apenas 13% das brasileiras avaliam ter conhecimento pleno de planejamento reprodutivo e que 43% das mulheres desejam saber mais sobre cada método contraceptivo e suas diferenças.
Faz-se necessário pensar em métodos de fácil adesão e que sejam ofertados de maneira igual para elas. Em um cenário de profundas disparidades como o Brasil, os contraceptivos reversíveis de longa duração, conhecidos como LARCs (long-acting reversible contraceptives), emergem como uma solução para um planejamento reprodutivo eficaz. Estes métodos, como o dispositivo intrauterino (DIU), e o implante subdérmico de etonogestrel, oferecem a vantagem de dispensar a presença constante em unidades de saúde após o período inicial de adaptação. Em áreas de difícil acesso, essas opções desempenham um papel crucial na salvaguarda dos direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e meninas.
A gravidez na adolescência é uma crise que gera preocupação de saúde pública global. Demanda a atenção contínua e ação coordenada de governos, instituições de saúde e comunidades. O enfrentamento deste problema exige estratégias abrangentes que promovam a educação sexual, o acesso irrestrito a métodos contraceptivos, bem como o apoio psicossocial apropriado. Ao enfrentar esse desafio de frente, podemos trabalhar coletivamente para criar um ambiente onde cada adolescente tenha a oportunidade de prosperar, contribuindo para um futuro mais saudável e equitativo.
Recent Comments